O crocodili e o macaco

Ngandu na Makaku

​Um conto dos nossos antepassados!

Conta, conta!

Meus irmãos! Escutem este conto.

Era uma vez uma aldeia, meus irmãos; digo “aldeia”, porque os animais também consideram a floresta onde vivem como uma aldeia. Trata-se do Crocodilo e do Macaco. Como sabem, o Crocodilo vive na água, enquanto que o Macaco vive nas árvores. E cada um gosta do sítio onde vive.

Um dia, houve uma grande festa na aldeia e todos os animais da floresta foram convidados, tanto os que vivem na água, como os que vivem fora dela; vieram todos juntar-se a esta festa.

O chefe deles era o Leopardo e era ele quem tinha convidado todos os outros animais. Enquanto comiam e bebiam, o chefe, o Leopardo, observava-os. O único ausente desta festa era Kabuluku, o Antílope Anão. Durante todo o tempo, o chefe não parava de observá-los. Constatando que Kabuluku não tinha ido à festa, ficou muito zangado. Depois, levantou-se e disse aos que tocavam tambor:

— Ei, vocês aí! Parem de tocar o tambor e oiçam.

Ficaram todos em silêncio e ninguém disse uma palavra. De pé, falou-lhes assim:

— Fui eu que vos convidei a todos para esta festa; mas falta alguém! Porque razão não veio Kabuluku, o Antílope Anão? Ficaremos aqui todos até Kabuluku chegar.

Depois disso ordenou aos seus súbditos:

— Façam o que vos digo e que ninguém diga o contrário.

Todos os presentes obedeceram.

Passou-se o primeiro dia e o segundo também. Continuaram a dançar, mas Kabuluku não aparecia. Os animais cansaram-se e a comida acabou. No terceiro dia, ficaram todos com fome. Então, o Elefante levantou-se e pediu autorização ao chefe para falar com ele e disse assim:

— Chefe, porque queres deixar morrer de fome toda esta gente por causa desse inútil do Kabuluku? Faz antes isto: manda-nos todos ir à procura dele e quem o apanhar que o traga até aqui. Farás com ele o que bem entenderes.

Quando o chefe ouviu isso, aceitou a proposta do Elefante e deu esta ordem a todos os animais:

— Vão lá e quem o apanhar que o traga cá para que eu o castigue.

Os animais dispersaram-se todos, indo cada um para seu lado. Então, o Crocodilo pôs-se a caminho, cheio de sede, porque ele também vive na água. Também cheio de fome, por não ter comido nos dois últimos dias, passeava por baixo das árvores. De repente, um vento violento, anunciando chuva, começou a soprar e a sacudir as árvores, caindo uma sobre o Crocodilo: ‘gbooo’. O Crocodilo ficou entalado num sítio onde não se podia mexer e ficou silencioso. Entretanto, o Macaco Pongi passou por ali e viu o Crocodilo entalado debaixo do tronco da árvore, com os olhos esbugalhados à procura de quem o pudesse socorrer. O Macaco perguntou-lhe:

— Meu caro, qual é o teu problema?

O Crocodilo respondeu:

— Uma árvore caiu em cima de mim, se a levantares, poderei sair daqui.

O Macaco, cheio de pena do irmão, desceu da árvore. O Crocodilo sugeriu-lhe que passasse para o lado da sua cauda e levantasse a árvore. O Macaco levantou a árvore. Então, o Crocodilo, com fome e zangado por a árvore ter caído em cima dele, foi saindo lentamente e com os dentes agarrou o Macaco por uma pata.

O macaco suplicou-lhe:

— Deixa-me ir embora.

O Crocodilo respondeu-lhe:

— Assim como me vês agora, estou cheio de fome e tenho de te comer.

O Macaco implorou:

— Perdoa-me. Deixa-me ir embora, não é bom que fiquemos a puxar um pelo outro aqui no meio do caminho!

O Crocodilo replicou:

— Nem pensar! Tenho mesmo de te comer.

Enquanto discutiam, surgiu o Antílope Anão, que lhes perguntou:

— Porquê essa desavença entre vocês?

Como o Crocodilo queria tomar a palavra, ele disse-lhe que deixasse o Macaco falar primeiro. E o Macaco tomou a palavra:

— Eis como se passou a história: regressávamos de uma grande festa para a qual o chefe Leopardo nos tinha convidado a todos. Ele encarregou-nos de ir à tua procura, de te prender e de te levar até ele. Com a fome que tenho, estava à procura de algo para comer. O chefe Leopardo guardou-nos durante cinco dias. O Crocodilo, que não sei como passou por aqui, e eis que lhe caíu uma árvore em cima. Eu ia a passar e ele pediu-me que o socorresse. Agarrei a árvore e ele saiu de debaixo dela. Uma vez a salvo, ele agarrou-me pela pata, disse-me que tinha fome e que tinha de me comer, a todo o custo. Antílope Anão, decide tu sobre este assunto.

O Antílope Anão retomou a palavra e disse ao Crocodilo:

— Diz-me, Crocodilo, onde foi que o Macaco te encontrou?

O Crocodilo respondeu:

— Em baixo do tronco da árvore.

E disse-lhe ainda:

— Ó Crocodilo, volta para o sítio onde estavas.

O Crocodilo enfiou-se debaixo do tronco da árvore.

Em seguida, o Antílope Anão disse ao Macaco:

— Tu, Macaco, vai-te embora.

Vendo isso, o Crocodilo começou a chorar. Pediu aos dois que o viessem ajudar. E o Antílope Anão disse assim:

— És tolo! E ainda por cima queres comer quem te ajuda?

Dito isto, o Macaco foi-se embora. O Antílope Anão também se foi embora. O Crocodilo ficou debaixo da árvore a chorar. Não por muito tempo. Alguém passou por ali e olhou. Era um caçador. Ele viu o Crocodilo entalado sob a árvore. Armou o arco e a flecha e atingiu o Crocodilo, que morreu.

É aqui que termina o conto. O que é que tudo isto significa? Para alguém que seja sensato, tudo isso não passa de um conto. Os antepassados contavam-no e nós também o contamos a vocês, nossos filhos. Os nossos filhos também vão contá-lo aos seus filhos. É assim.