Isabel Belelê
Sabel Belelê
Isabel Belelê era uma menina muito bonita e engraçada. Pouco depois de ter nascido, ficou órfã de pai e mãe. Ficou sozinha. Criou um cão e este cão era tudo para ela: servia-lhe de guarda e era guarda da sua casa.
À noite, deitavam-se na mesma cama. Os rapazes gostavam dela, mas ela não dava nenhuma atenção a nenhum deles, e a ninguém mesmo. Era toda reservada, com o seu cão.
Certo dia, à noite, ela ouviu uma voz dizendo:
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, pega o teu cão, vou à tua casa, levar-te um saco de moedas de ouro...
O cão respondeu:
— Iepu, iepu, Isabel não está cá… Iepu, iepu, Isabel não está cá!... Isabel já está no seu primeiro sono!...
Passado algum tempo:
— Isabel Belelê, Isabel Beleêe, pega o teu cão, vou à tua casa, levar-te um saco de moedas de ouro!...
Esse tal levava um saco de moedas de ouro! Por isso, queria conhecê-lo. Então, levantou-se e pôs o cão no quintal. Entretanto, o desconhecido voltou a dizer a mesma coisa. Como o cão voltou a repetir, ela pegou no cão e colocou-o dentro de uma espécie de mala, para o cão não falar, porque ela queria aquele dinheiro. Então, o desconhecido disse:
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, pega o teu cão, vou à tua casa, levar-te um saco de moedas de ouro!...
O cão ainda respondeu:
— Iepu, iepu, Isabel não está cá… Iepu, iepu, Isabel não está cá!... Isabel já está no seu primeiro sono!...
Ela levantou-se, matou o cão e enterrou-o dentro do quintal.
No dia seguinte, voltou o desconhecido, e o cão, mesmo morto, respondeu. Isabel levantou-se, queimou o cão que ficou em cinzas. O desconhecido voltou a dizer:
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, pega-me o teu cão, vou à tua casa, levar-te um saco de moedas de ouro!...
Tendo em conta que mesmo as cinzas do cão reagiam ao desconhecido, ela raspou as cinzas, colocou-as num pano e foi deitá-las ao mar. Julgava ela que, dessa forma, iria ter a chance de ficar com aquele saco de moedas de ouro. Abriu então a porta e o desconhecido entrou. Levantou-se ela e perguntou:
— Você?!... Para que servem esses dentes?...
— Unm!... Servem para eu te comer!
— Esse chifre para que serve?...
— Serve para te colocar em cima dele!
— E essa mão grande, para que serve?
— É com ela que te agarro para andarmos juntos!
Ela começou então a gritar, a gritar, mas os vizinhos não a socorreram, porque todos sabiam o que andava ela a tramar. O desconhecido colocou-a sobre o chifre e andou com ela de porta em porta, enquanto ela dizia:
— Vizinhos, vizinhos, socorrei-me porque caí numa desgraça… Estou sobre o chifre de coisa ruim, coisa ruim de porta adentro, coisa ruim de porta afora!
Os vizinhos responderam:
— Isabel Belelé, Isabel Belelê, passa pelo teu caminho… passa pelo teu caminho!
Foi à outra porta:
— Minha comadre, minha comadre, me ajude, porque caí em desgraça… Estou sobre o chifre de coisa ruim, coisa ruim de porta adentro, coisa ruim de porta afora!
A comadre respondeu-lhe:
— Comadre, comadre… comadre, comadre, passe lá pelo seu caminho!
Ninguém a socorreu. Depois, surgiu mais uma coisa ruim, meteram-lhe os chifres dos dois lados, retalharam-na e deixaram-na na ribeira.
Ficou a história para que todos saibamos que foi satanás quem fez o dinheiro. Por causa do dinheiro em ouro, queria ela conhecer o desconhecido, e assim acabou chegando ao ponto, que poderia ter evitado.
“Sapatinhar ribeira acima, sapatinhar ribeira abaixo, quem souber mais, conte melhor!”