La cabeza y la cola de la serpiente

Nhloko ni ncila wa nyoka

​Era uma vez uma cobra muito grande que vivia numa mata. Certo dia, quando se encontrava na sombra de uma árvore chamada “Mphama”, enrolou-se e a Cauda ficou no chão, enquanto a Cabeça estava por cima do corpo. A Cauda, sentindo a frescura da sombra, levantou-se e disse:

— Ó Cabeça! Ó Cabeça! – A Cabeça ficou atrapalhada, sem imaginar quem estava a falar com ela.

— Ó Cabeça!

A Cabeça olhou para os lados, procurando ver quem lhe estava a chamar. A cauda disse:

— Sou eu que estou a falar contigo, sou eu, a Cauda

— Tu, Cauda, falas? – Perguntou a Cabeça.

A Cauda respondeu:

— Falo, só que me mantive calada durante este tempo todo. Andas a puxar-me e eu calo-me.

— Afinal falas tu? – Replicou a Cabeça.

— Eu falo, só que não tenho dom para falar, tu é que tens esse dom. Mas hoje apeteceu-me dizer-te qualquer coisa.

— Diz, o que queres?

— Eh, puxaste-me, amiga, entrámos na água, entrámos nas micaias, entrámos em todos os cantos, todavia peço-te que a partir de hoje seja eu a puxar.

— O quê? Tu? Queres puxar?

A Cauda disse:

— Sim, quero puxar!

— Eu puxo assim, porque tenho olhos, consigo ver em frente.

Ela disse:

— Isso não é problema, hei-de puxar.

— Tu, seremos mortas por pessoas, por tua causa.

A Cauda replicou:

— Não, quero puxar!

— Eu puxo assim, porque tenho boca, sou eu que como até ficares gorda aí atrás e te abanares. E tu, como é que vais comer?

A Cauda disse:

— Eh, eu quero puxar a partir de hoje.

— Quem vê o caminho, sou eu porque tenho olhos, cá.

A Cauda insistiu:

— Eu, a partir de hoje, quero puxar.

A cabeça respondeu:

— Eh, quando sairmos daqui, puxa amiga e vamos.

Toda a força foi para a Cauda. Puxou, foi em direcção às micaias, porque ela não via para onde se dirigia.

A Cabeça puxou no sentido contrário, dizendo:

— Amiga, a tua maneira de conduzir não dá! Olha, entrámos num lugar cheio de picos. Será que não viste isso antes?

A Cauda disse:

— Peço desculpas.

Assim, mudou de direcção, indo parar numa fogueira. A Cauda queimou-se. Ao ver a situação a agravar-se, a Cabeça disse:

— Eu disse-te amiga, o que estás a fazer não dá! A tua maneira de conduzir o nosso destino levar-nos-á à morte.

A Cauda, reconhecendo o erro que cometera, replicou:

— Peço desculpas.

Ao se afastarem da maldita fogueira, a Cauda dirigiu-se ao rio e, quando a Cabeça descobriu que estavam prestes a afundar, chamou a atenção da amiga:

— Estamos a entrar na água! Espera que eu puxe para sairmos do rio!

A Cauda sempre que colocava a amiga numa situação de perigo, dizia:

— Peço desculpas.

A Cabeça, vendo os erros sistemáticos que a Cauda cometia, desabafou o seguinte:

— Eh! Eu conduzi o nosso destino durante trinta anos e nunca foste picada, não te queimaste, nem entraste na água, e sempre viveste bem. Agora, a tua maneira de trabalhar já me fartou. Se fosse possível separar-me-ia de ti e ficarias sozinha a ir para esses sítios todos. Não comemos nada, nem bebemos água! Peço perdão! Passarei a dirigir os destinos, porque quando sou eu as coisas andam melhor.

A Cauda escutou atentamente o desagrado da cabeça, todavia insistiu dizendo:

— Não, não, não… quero continuar ainda a dirigir o nosso destino.

Após esta discussão, a Cauda rumou em direcção ao local onde alguns homens estavam a pôr o telhado numa casa. Estes ficaram espantados com o que viam e um deles gritou:

— Vejam a cobra! A cobra locomove-se em marcha-atrás!

A Cabeça, antevendo mais uma situação de perigo, exclamou:

Ó Cauda, peço desculpas! Tu é que mandas, mas para onde tu vais estão pessoas e vão nos matar! As pessoas não gostam de nós.

Nesse instante, os homens, munidos de catanas e enxadas, desceram e atacaram a cobra. Esta conseguiu escapulir-se, mas ficou gravemente ferida com os golpes que os homens desferiram nela. A Cabeça sentia muita dor e afirmou:

— Epá, não! É melhor eu passar a puxar-te! – Assim, ela foi para a sombra onde habitualmente se refrescavam e disse:

— Ó Cauda, viste o que ia acontecer hoje? Escapámos de morte certa! Se eu não esticasse os meus músculos, creio que terias ficado por lá.

A Cauda, sem saber o que dizer face àquela situação, reconheceu a sua incapacidade de dirigir os destinos da cobra. Naquele momento, ela disse o seguinte:

— Aceito que voltes tu a puxar-me. Já percebi que nada posso fazer sem ti.

Moral da História

Não colocar a vida em perigo por causa de ambição desmedida porque, cada indivíduo é útil e é importante no lugar e nas funções que a natureza lhe confiou.