Curiosidade de kinancoi

[Ka ́bet] [ ́nki] [kuju ́ba]

​Uma vez o kinancoi e a coruja viajaram para uma ilha, onde foram hospedados por um homem. A coruja tinha as penas levantadas nos dois lados da cabeça como se fossem cornos e constantemente ameaçava atacar o kinancoi caso este recusasse cumprir as suas ordens.

Todas as manhãs, entre tantas outras ordens a coruja dizia ao kinancoi que lhe pusesse água na casa de banho. Quando o kinancoi queria recusar a coruja dizia-lhe em tom de ameaça:

— Kinancoi, faz isto senão vou te maltratar com o meu mungumungu!

Mungumungu eram as tais penas levantadas em jeito de cornos.

O kinancoi não tinha outra alternativa senão obedecer, para evitar que fosse machucado.

Um dia o homem que os recebeu na ilha comprou dez litros de vinho de palma e disse-lhes:

— Meus queridos, bebam este vinho de palma.

O kinancoi ofereceu-se logo para ser ele a servir o vinho, proposta imediatamente aceite pela coruja que se achava chefe. De tanto beber, a coruja embebedou-se até perder o controlo e deitou-se na cama a dormir.

O kinancoi não bebeu tanto vinho como a coruja, com receio do mungumungu e também porque queria saber se a coruja tinha realmente cornos.

Enquanto a coruja, embriagada, dormia, o kinankoi observava a sua cabeça para se certificar se tinha cornos. Soprou-lhe na cabeça até as penas se levantarem mas, não viu cornos nenhuns. Assim, o kinancoi descobriu que a coruja não tinha cornos.

A coruja adormecida, ao sabor do vento, murmurava:

— Que bom vento!

Depois desta descoberta, o kinancoi foi de pronto, sem medo, entornar o balde de água que tinha ido buscar para a coruja tomar banho.

Quando ela acordou, sem saber que tinha sido descoberta, começou a gritar, como habitualmente.

— Kinancoi, onde está o balde de água para eu tomar banho?

O kinancoi respondeu dizendo que a água tinha sido derramada mas, a coruja foi insistindo com as suas ordens até que o kinancoi confiante replicou:

— Hoje eu não vou, tu vais catar água para ti. Faz o que quiseres.

A coruja voltou a ameaçar ferir o Kinancoi com o seu mungumungu mas este retorquiu:

— Olha coruja, se brincares comigo vais conhecer a verdade, eu já sei que aquilo que tens na cabeça não são chifres. Se eu te pegar, deito-te ao chão e arranco aquelas coisas que tu tens na cabeça.

A Coruja atónita perguntou,

— O que estás a dizer kinancoi?

O kinancoi, sem contestar, pediu à coruja que fosse chamar o dono da casa que, ao se inteirar do desentendimento que havia entre os seus dois hóspedes, pô-los a lutar para ver quem era o mais forte.

A coruja fez uma breve preparação indo para trás e para a frente. Mas, quando decidiu avançar para o embate com o kinancoi, este limitou-se a soprar em direcção à cabeça dela. As penas arreganharam-se e puseram a descoberto o embuste da coruja.

As crianças que assistiam ao combate, gritaram em coro,

— Oouoo!

É por esta razão que a coruja se refugiou no mato e ficou a viver definitivamente na floresta, no cume das palmeiras.