O passarinho e o coelho

Kajojolo ni kalunga

​Um dia, o Passarinho saiu de casa à procura de comida e cruzou-se com o Coelho. Durante a conversa, o Coelho disse ao Passarinho:

— Tu não sabes nada sobre as coisas do Mundo. Só eu é que sei! O Passarinho disse:

— Não podes pensar assim, também sei muitas coisas que tu nem sabes.

O Coelho retorquiu:

— Não me atormentes, porque sei tudo até o que Deus faz.

— Desculpa – disse o Passarinho. – Deixei crianças em casa! Vou à procura de comida e no meu regresso podemos continuar a nossa conversa.

O Coelho disse ao pássaro que possuía o que ele procurava. Assim, convidou-o para sua casa. Ao longo do caminho, o Coelho disse:

— Se precisas de comida, vamos à machamba. Assim, dou-te a enxadinha para cultivares depois terás a comida. O Passarinho disse:

— Isso não, conheço-te bem! Queres que eu trabalhe para ti. Tenho um sítio de onde levo comida para alimentar os meus filhos.

O Coelho conseguiu convencer o Passarinho a cultivar na sua machamba. O Passarinho começou a capinar e, mais tarde, o Coelho disse:

— Leva a enxadinha para a minha casa e lá te ofereço o que andas à procura.

Ao chegar a casa, o coelho não quis cumprir com a promessa. O passarinho foi-se embora e do meio da rua disse:

— As tuas mentiras ditam a esperteza! – Nesse instante, o Coelho pôs-se a rir em grandes gargalhadas.

O Passarinho disse:

— Não precisas de tantas gargalhadas. Preciso de comida, porque quero alimentar os meus filhos.

O Coelho entrou em sua casa e saiu, dizendo:

— Havia-me esquecido que estou já sem comida. Dei-a toda ao meu amigo que estava doente.

O Passarinho disse:

— Fizeste-me andar e trabalhar, agora não queres me recompensar? Muito obrigado pelo que fizeste comigo.

O Coelho ficou muito contente, pensando que sabia tudo. O Passarinho quando chegou a casa disse para os filhos:

— Não consegui comida, porque o Coelho me enganou.

Os filhos disseram:

— Afinal, pai, não sabia que o Coelho se julga esperto?

— Filhos, deixem-no que iremos nos cruzar nas próximas vezes. – Assim, o Passarinho conseguiu sossegar os seus filhinhos.

O Passarinho morava numa linda aldeia. No dia combinado para o passeio, começou a chover e o Coelho apanhou muita chuva. Ao passar pela casa do Passarinho, o Coelho gritou:

— Passarinho! Passarinho! Preciso da tua ajuda. Leva-me até casa, assim que parar de chover. Suplicou o Coelho de tanto estar molhado.

Enquanto iam à casa do Coelho, ao longo do caminho, este sentia muito frio e tremia. Deste modo pediu ao passarinho que o carregasse, porque não aguentava mais andar, ao que o Passarinho aceitou. Chegaram a um rio que estava cheio de água e o Passarinho disse ao Coelho:

— Agora podes ir, não vou poder lavar-te à outra margem. O Coelho começou aos gritos, enquanto o Passarinho ia atravessando. O Coelho implorou, pedindo ajuda e prometendo que, em troca, o Passarinho ficaria com todas machambas. Chegados à casa, o Coelho disse que ele era muito esperto e que não iria, mais uma vez, cumprir com a promessa. O Passarinho foi-se embora e o Coelho começou a adoecer. O Passarinho não voltou para levar o amigo ao hospital e o Coelho acabou por morrer.

Moral: Não devemos menosprezar os outros, dizendo que não pensam. Todos pensamos e podemos ajudar uns aos outros de forma a desenvolver mutuamente a nossa riqueza.