A jovem que estava a espera de marido

O toog’o leŋ’a reeƭtu

​Era uma vez uma jovem que queria ter um marido com que se entendesse maravilhosamente. Não queria casar com um primo direito ou com outro parente, como as outras raparigas da idade dela, e mandava embora todos os que vinham apresentar-se. Um dia um pretendente chegou à aldeia montado num belo cavalo.

A rapariga mandou-o entrar na morança em que vivia com os pais. Chamou alguém de casa e disse:

— Buguma, vai prender o cavalo deste hóspede.

O forasteiro respondeu:

— Vim acompanhado por Xajaanum.

Fez menção de partir, mas a rapariga disse:

— Não, não podes ir-te embora assim, tenho a impressão de que era por ti que eu esperava.

Conversaram um bocadinho e a rapariga pediu-lhe que voltasse noutro dia, para pedir a mão dela. Ele veio na data indicada mas o pai da jovem estava a trabalhar no campo. Ela disse:

Vou explicar-te o caminho que leva ao meu pai, se conseguires encontrá-lo casas-te comigo.

Ela indicou-lhe o caminho de maneira enigmática.

— Passa por baixo do leite coalhado de cima, vai aonde os espíritos se encontram, passa por aquilo que deixa perplexo um estranho, atravessa a esperança do próximo ano e entra na última morada, quando de lá saíres hás-de ver o meu pai.

O pretendente pôs-se a caminho e passou por baixo do embondeiro, que é o leite coalhado de cima, passou diante do poço, que é onde os espíritos se encontram, passou pelo cruzamento, que é o que deixa perplexo um estranho, atravessou um campo estrumado, que é a esperança do próximo ano, e passou pelo cemitério, isto é, a última morada, e lá viu o pai da rapariga.

Quando regressou à aldeia foram declarados marido e mulher.

O marido era um comerciante que costumava viajar em caravanas com mouros. Um dia estes agarraram-no, mergulharam-no num poço e atiraram-lhe pedras até que o infeliz comerciante ficou entre a vida e a morte. Quando iam pôr-se de novo a caminho o comerciante teve forças para os chamar e dizer-lhes:

— Sem a ajuda de Deus é inevitável que morra. Resta-me pedir-vos que se forem à minha aldeia digam isto à minha mulher: que escolha duas ovelhas vermelhas e as sacrifique em minha intenção. Digam-lhe também que deixe a ovelha preta viva, ela será a reprodutora e a geradora do meu futuro rebanho.

Eram três mouros, dois mouros brancos e um mouro negro. O último desejo do marido nada mais significava do que a morte de dois deles, como vamos ver. Os mouros disseram simplesmente à mulher que o comerciante tinha ficado retido no mato e transmitiram-lhe as suas recomendações. Ela pediu-lhes que partilhassem a refeição que estava a preparar e convidou-os a instalar-se numa grande esteira, que estendeu no pátio.

Saiu de casa sem que eles percebessem e foi informar a aldeia da visita destes mouros, que, tinha a certeza, tinham atentado contra a vida do marido. A verdade é que ela tinha decifrado a mensagem que o marido lhe fizera chegar. Ele pedia-lhe que matasse os dois mouros brancos e torturasse o mouro negro, para o obrigar a falar, o que foi feito. O mouro negro levou-os ao poço em que o comerciante estava preso. Foi assim que este foi salvo de uma morte que pareceria inevitável se não tivesse, como têm os casais que vivem em harmonia, cumplicidade com a mulher.