Sira

Sira

​Era uma vez…

Uma mulher recém-casada devia ir ter com o marido, que vivia numa aldeia que ficava um pouco afastada. O pai dela foi categórico com os amigos e os parentes que vieram buscá-la para a acompanhar até ao domicílio conjugal, dizendo-lhes que a filha devia ser levada sempre em braços, sem tocar no chão uma só vez, desde casa dele até à do marido. A verdade é que a estrada por que deviam seguir passava por uma montanha habitada por espíritos facetos e qualquer jovem que tocasse o solo naquele lugar maléfico era arrebatada pela montanha, que a guardava prisioneira.

Depois de dada a garantia de que o desejo do pai seria respeitado, o cortejo nupcial pôs-se a caminho. Durante o trajecto os acompanhantes sentiram-se cansados e quiseram parar um bocadinho. A irmã mais nova da mulher, que também a acompanhava, não deixou de lembrar o que o pai tinha dito, que não deviam deixar a irmã tocar no chão durante a viagem, mas os outros não quiseram saber.

Mal puseram a jovem no chão ela foi arrebatada pela montanha, exactamente como o pai tinha dito. Os outros membros do cortejo não conseguiram libertá-la do enlace mágico. Desesperados, continuaram viagem, deixando a jovem para trás, desamparada. Chegados ao destino, disseram aos aldeões, quando lhes perguntaram onde estava a noiva, que ela se tinha perdido no mato.

Um dia, sentada na montanha, a jovem cativa viu passar uma mulher que ia para a aldeia dela. Chamou a passante com um canto, dizendo: “Ó mulher, ó mulher esbelta, quando chegares à aldeia dá cumprimentos meus à minha mãe!”

A passante respondeu-lhe, cantando também:

— Não chores, não chores, se não os génios da montanha ouvem-te e ainda te fazem mais mal!

A passante prometeu dar o recado assim que chegasse à aldeia, mas lá chegada esqueceu-se de transmitir a mensagem à mãe da rapariga, como tinha prometido.

Depois de a passante ter partido a jovem avistou um cavaleiro, e de novo cantou.

— Ó homem, ó homem tão grande, quando chegares à minha aldeia diz à minha mãe que penso nela!

O cavaleiro disse:

— Não chores, não chores, se não os génios da montanha ouvem-te e ainda te fazem mais mal!

O cavaleiro prometeu que não deixaria de transmitir o recado. Chegou à aldeia e esqueceu-se da promessa.

Depois deste cavaleiro, ela avistou outro homem a cavalo e pediu-lhe o mesmo favor. O homem também se esqueceu de transmitir a mensagem. E o mesmo aconteceu com um outro homem, que se dirigia para a aldeia com as ovelhas. Por fim ela viu um homem com uma cabra e começou novamente a cantar.

— Ó homem, ó homem tão alto, quando chegares à nossa terra diz à minha mãe que a amo!

Ele respondeu-lhe:

— Não chores, não chores, se não os génios desta montanha ouvem-te e fazem-te sofrer ainda mais!

Tal como os outros ele prometeu dizer à mãe da jovem o que ela lhe confiara. Todas estas pessoas, bem como os animais delas, tinham-se esquecido de dar o recado da jovem, e quando o homem da cabra chegou à aldeia aconteceu o mesmo. A cabra começou então a balir. Aconselharam o homem a dar de beber à cabra, mas ela recusou-se a beber. Sugeriram-lhe que lhe desse de comer, mas a cabra recusou a comida. Foi nessa altura que o homem se lembrou da sua promessa e disse à mãe da jovem:

— Ah, é verdade!, vi a sua filha. Ela foi capturada pela montanha. Pediu-me que lhe transmitisse todo o seu amor por si.

Então o pai mandou um homem ir buscar a filha. Deu-lhe sete grãos de painço, sete pedrinhas e sete grãos de milho e o homem pôs-se a caminho da montanha para libertar a jovem cativa. Mas não chegou ao destino, porque o cavalo partiu uma pata. O homem caiu com muita força no chão e morreu da queda.

Deram as mesmas provisões a outra pessoa, mas esta também não foi bem sucedida e morreu no caminho. À beira do desespero, o pai da jovem lançou um apelo aos aldeões, nestes termos:

— O homem que conseguir trazer a minha filha, que está na montanha, terá a sua mão. Além disso satisfarei todos os seus desejos. Fá-lo-ei porque o meu poder de rei mo permite.

Foi então que um homem se voluntariou para a terrível missão. Pegou nos sete grãos de painço, nas sete pedrinhas, nos sete grãos de milho e em sete ovos e partiu em direcção à montanha. A meio do caminho esmagou os sete ovos no chão e depois os sete grãos de painço contra a encosta de uma montanha. Quando chegou ao sítio em que a jovem se encontrava atirou as sete pedras. A rapariga levantou-se imediatamente e foi ter com ele. O homem pô-la no cavalo e dirigiram-se assim para a aldeia.

Quando o pai os viu entrar na casa de família disse ao homem:

— De agora em diante esta mulher é tua esposa.