Um jovem caprichoso

Labar er bital

​Charo tinha uma mulher. Desta união nasceram uma menina e um rapaz. Quando o rapaz se tornou adulto decidiu que só se casaria com uma rapariga que fosse tão bonita como a irmã, Bego. A notícia espalhou-se pelas aldeias. As raparigas das terras vizinhas vinham apresentar-se. O rapaz subia para uma palmeira e assim que as jovens se aproximavam da árvore a mãe cantava: “Saroram injarar Mamadu sarama ger timo.”

Se a rapariga não fosse bonita como a irmã ele dizia-lhe: “Nëma Ka injarar ar timo timo gër beggo.”

Numa aldeia algumas raparigas decidiram ir a casa do jovem. Enganaram uma das amigas dizendo-lhe que deviam apanhar caganitas de cabra para levar de presente para casa do jovem. Mas elas, fazendo o contrário desta ignóbil recomendação, levavam arroz. Antes de chegarem à aldeia do rapaz pararam numa fonte e poisaram os carregos para se lavarem. Decidiram mostrar o que cada uma levava, para ver qual tinha o arroz mais branco. Quando abriram os sacos a amiga disse:

— Ó, vocês enganaram-me dizendo que era preciso levar caganitas de cabra.

Elas disseram:

— Tu é que és ingénua! Quem é que vai oferecer a um homem caganitas de cabra? És mesmo parva!

A jovem pediu-lhes que esperassem ali por ela e lhe dessem tempo de voltar à aldeia para ir buscar arroz, até lhes disse que já tinha arroz pilado. As outras jovens fingiram concordar mas logo que ela virou costas cada uma pôs à cabeça o seu arroz e seguiram caminho. A amiga voltou à aldeia, pegou no arroz e pôs-se a caminho. Mas, enquanto estugava o passo, foi surpreendida por uma tempestade.

Aproximou-se de uma cabana em que vivia uma diaba. Esta era oleira e tinha feito potes de água, que deixara a secar ao sol. Vendo que a chuva ia desmanchar os potes, a rapariga pegou neles, abriu a porta da cabana e arrumou-os lá dentro. Depois foi abrigar-se da chuva, não longe dali. A anciã veio a correr, e na correria não parava de cair, de se levantar e de voltar a cair. Pensava que a chuva tinha estragado os potes todos. Viu a jovem, cumprimentou-a e perguntou-lhe:

— Quem és tu, menina?

Ela disse-lhe quem era e aonde ia e contou-lhe a história toda. A diaba convidou-a a entrar na cabana.

Pegou num grão de arroz e pediu à jovem que fizesse comida, e ela fez. Uma vez servida a refeição comeram com apetite. Então a diaba transformou-a numa rapariga muito bela e disse-lhe:

— Ele vai casar-se contigo, não vai escolher nenhuma das que querem rivalizar contigo. Vai!

A jovem pôs-se de novo a caminho. Quando chegou ao destino o grupo de raparigas que a tinham precedido estava instalado na cabana do rapaz. Quanto a ela, mandaram-na para a cabana da mãe. Quando o homem a viu a mãe cantou uma só vez: “Faroram injarar Mamadu sarama gër timo.”

Ele dirigiu-se para a cabana, entrou e cumprimentou a rapariga. A irmã do jovem chegou e foi sentar-se ao pé de Niano. O rapaz não conseguia saber quem era a irmã dele, Bego, nem quem era a estranha que tinha acabado de chegar. A confusão continuou até ao cair da noite. As duas raparigas foram buscar água, aqueceram-na e levaram-lha.

Ele começou a lavar-se com a água trazida por uma e terminou com a que a outra trouxe. No quarto em que elas deviam passar a noite havia duas camas. Cada uma das jovens escolheu uma e deitou-se. O rapaz estendeu uma esteira, instalou-a no meio da cabana e deitou-se. No dia seguinte foi até ao arbusto vermelho que lhes servia de oráculo. O arbusto disse-lhe que tinha que fazer dois cordões vermelhos, cada um para atar no pulso de uma das jovens, e que a irmã dele havia de cortar o dela. Mas quando lhos pôs ambas desmancharam os cordões. Então ele foi ter com o arbusto vermelho outra vez, que lhe disse:

— Agora arranja um chicote e vai ter com elas. Bate uma vez em cada uma delas. A que é tua irmã há-de perguntar-te porque é que lhe bates.

Ele foi e encontrou-as a pilar painço. Quando bateu nelas a irmã disse:

— O que te fiz eu?

Ele gritou-lhe na cara:

— Levanta-te e vai procurar um marido!

A irmã respondeu-lhe:

— Pois bem, eu também me vinguei de ti! Eras tu que me guardavas aqui, enquanto todas as minhas companheiras se casaram. Recusavas a mão de todas as raparigas comparando-as comigo! Foi por isso que te baralhei assim.

Foi com estas palavras que a irmã dele se foi embora de casa, foi assim.