Pedro, Paulo e Manuel

Pedru, Palu, Manel

​Era uma vez… coisas e coisas acontecem. Desde aquele tempo aos dias de hoje. Eu estava aqui, em casa, sossegado. De repente, deu-me vontade de sair e andar por aí. Então, cheguei numa aldeia, encontrei um rapaz e disse-lhe:

— Ó rapaz, que localidade é esta?

— Ao menos me dissesse “boa tarde”… de nada vale serem adultos! – reagiu ele.

Corrigi-me dizendo-lhe “boa tarde” e voltei a perguntar:

— Que localidade é esta?

Respondeu:

— Aqui é não há muito mistério e necessidade não é mal nenhum… Todo aquele que aqui vier, se rege bem!

Então, disse-lhe:

— Bom, se aqui se rege bem, vou ficar um bocadinho para me mostrares como é este lugar!

Ele respondeu-me:

— Se quiser ficar, fique… O senhor é que escolhe o lugar para onde quer ir.

Retorqui:

— Bom, então vou ficar contigo, para me mostrares como é a aldeia.

Estávamos aí nos divertindo e contando anedotas, quando ele me disse:

— Recentemente, ouvi uma notícia sobre uma mulher que se chama Maria e que se diz ser a mulher mais bonita do mundo… Que igual a ela, ainda não nasceu!

— A sério?!... Onde é que ela está? – Perguntei.

Ele disse:

— Não… Trata-se de uma notícia.

Comentei:

— Conheço-a! Eu, António, conheço-a! Só que nunca estivemos perto um do outro… Despacha-te, que eu vim cá te buscar!...

Ele respondeu:

— Não, há três rapazes, Pedro, Paulo e Manuel, que estão à procura de uma maneira de ir à cata dessa mulher, para a conhecerem e pedi-la em casamento.

Disse-lhe então:

— É normal. Se quiserem, eu os levo até lá.

Saímos. Fomos à casa dos rapazes e eles ficaram muito contentes comigo. Eu tomava o meu groguinho, deram-me um pouquinho, surgiram umas ideias, ganhei coragem. E quando ganhei coragem, me aproximei dos rapazes, conversamos e, então, disse-lhes que fôssemos.

Quando chegámos, viram aquela linda mulher!... Beleza igual não havia! Pedro disse-lhe:

— És tu a Maria, a mulher mais bonita do mundo?

Ela respondeu:

— Sim, sou eu.

Paulo e Manuel fizeram-lhe a mesma pergunta. Eu, António, fiquei assim… Não tinha nada a dizer.

Disseram:

— Olha, queremos casar contigo!

Ela, admirada, disse:

— Como é que vocês, os três, se casam comigo… se sou apenas uma!?...

Insistiram:

— É contigo que temos de nos casar!

Então, disse-lhes a Maria :

— Bom, não vou discutir e nem vou negar… Vocês vão se casar comigo, mas com a seguinte condição: têm de se deslocar ao estrangeiro e comprar-me um presente, uma coisa muito bonita e de um grande valor, para eu poder me casar com vocês!

Aquele que me trouxer a prenda mais bonita, caso-me com ele!

O Pedro respondeu, logo:

— Eu vou!

O Paulo e o Manuel, aliás, todos eles, já queriam ir naquele mesmo dia. Viraram-se para mim e disseram:

— António, se não vais, ficas!

Respondi:

— Por que ficaria?!... Vamos juntos!

Então fomos. Quando chegámos, descemos, e eu fiquei encostado à parede. Paulo foi para um lado, Pedro para outro e Manuel para aqueloutro. Eu fiquei de pé, à espera deles, porque cada um foi fazer a sua compra.

Tinham que apresentar-me as respectivas compras, já eu era a testemunha da primeira hora.

Então, foram e regressaram quase três dias depois. Naquele dia, vieram encontrar-me os três e disseram:

— Sr. António, já estamos de volta!

Exclamei, perguntando:

— Regressaram!?...

Retorquiram:

— Chegámos!

Então, pedi-lhes as provas das compras que fizeram. O Pedro tinha comprado um barquinho que cabia debaixo do braço; o Manuel comprara um machadinho, do tamanho dos que se usam na cozinha; o Paulo tinha comprado um espelhinho… (já agora – tirando o contador de um dos bolsos das suas calças um pequeno espelho que apresentou ao público, enfatizou – é mesmo este que ele tinha no bolso!) disse:

— É isto que eu comprei!

Nos desatamos a rir, e perguntei ao Pedro:

— Para que serve este barquinho?

Virando-me para o Manuel :

— E tu?... Este machadinho que nem serve para rachar lenha? – Naquele tempo nem se cortava carne com machadinho.

Mas quando o Manel puxou do seu espelhinho, aí é que foi gargalhada grossa, porque o espelho era mesmo pequenininho…

Aí, o Pedro disse:

— Para já, querem saber uma coisa?... Eu posso dizer ao meu barco que nos tire daqui e nos leve para outro país, que não o nosso, vamos e voltamos quando quisermos!

Como os rapazes riram, então, ele ordenou:

— Barco, leva-nos a uma outra terra estranha… ida e volta!

No mesmo instante, todos entraram no barco e, num abrir e fechar de olhos, já estavam num outro país. Em aí chegando, acharam a terra maravilhosa. Sentiram-se tão bem, que melhor seria impossível.

O Pedro perguntou:

— E agora?...

Respondi:

— Está visto. Agora, vamos embora!

O Manuel disse :

— O meu machadinho também me serve em todos os momentos de que necessito dele… Tanto na vida como na morte !

Voltámos a rir à farta, batendo palmas e exclamando:

— Oh!… Esse machadinho!!!

Então, ensaiou uma demonstração:

— Vou me deitar de costas, e um de vocês vai me cortar a cabeça, com o machado. Logo depois, um outro de entre vocês, apanha a cabeça cortada e vem colocá-la no lugar em que estava. Um terceiro pega no machadinho, dá uma machadada no meu peito e faz-me o sinal da cruz na testa, que me levanto de imediato, como se nada tivesse acontecido!

Eu, que já estava com vontade, saí à rua, peguei no machado, dei-lhe uma machadada no pescoço, a cabeça voou; um outro apanhou-a logo, e foi colocá-la no lugar, enquanto o terceiro lhe dava uma outra machadada no peito, fazendo-lhe o sinal da cruz na testa. O Manuel levantou-se logo, melhor do que estava antes. (Olhem lá!... Se for mentira, digam-me, que me calo… porque eu estava lá e vi tudo! Não riam… porque não estou a brincar!).

Então, perguntou-se ao Paulo o que tinha para contar.

Ele disse, puxando do seu espelho:

— Olhai!...

Todos nos abaixamos para ver o espelho e vimos a Maria morta, dentro de um caixão, a caminho do cemitério. Os rapazes lamentaram e Pedro disse:

— Agora é assim… Entrem no barco!

O barco partiu e, num abrir e fechar de olhos, estavávamos na terra da Maria. Quando chegámos, tinham já tirado o caixão do carro funerário e as pessoas estavam todas a chorar: “uh-uh-uh-uhuu”. O Pedro chegou e disse:

— Parem!... Parem! Não dêem nem mais um passo!

O Manuel, por sua vez, acrescentou:

— Ponham o caixão no chão!

E o Paulo:

— Abram-no!

Quando abriram o caixão, eu estava lá de pé, a observar. Ele disse:

— Sr. António, e agora?...

Respondi:

— Vocês é que sabem!

O Manuel tirou o seu machadinho, deu uma machadada no peito da Maria, fez o sinal da cruz no peito dela e a Maria começou a gemer:

— Ai… Ai, meu pai… Meu pai!

A Maria levantou-se e, olhando em volta, perguntou:

— O que é isto?!...

Dissemos:

— Bom, vamos daqui!

Apanhámos a Maria e levámo-la para a casa dela. O pai dela estava um coitado porque, mesmo tendo muito dinheiro e sendo abastado, Maria era a riqueza mais preciosa que ele tinha, e ela tinha falecido. Então, o pai estava muito triste quando aparecemos com a Maria e lhe dissemos:

— Toma a tua filha!

O homem ficou tão contente que não cabia em si de tanta alegria. Mas, de repente, voltou a ficar triste, porque os rapazes puseram-se a discutir com qual deles se casaria a Maria. Todos se diziam com direito a se casar com a Maria. Eu limitei-me a olhar apenas. Foi então, que o pai da Maria disse :

— Rapazes, porque estão a discutir desta maneira?... Podem-me explicar o motivo?

Pedro disse:

— Olhe, o barco que eu comprei é que nos trouxe de onde estávamos até aqui!

Paulo argumentou:

— Foi o espelho que eu comprei, que nos mostrou a Maria morta!

E Manuel defendeu-se, dizendo:

— Ai-ai… Eu é que a ressuscitei! Portanto, sou eu a casar-me com ela.

O pai da Maria olhou para todos os lados, e disse :

— Não sei o que vou fazer… Mas vou resolver-vos o problema, agora!

Pensou um bocado, olhou para mim, pôs-se em frente da Maria, levou a mão para trás e deu uma grande bofetada à Maria que virou três Marias iguais. Então, disse:

— Paulo, toma a tua!... Pedro, toma a tua!... Manuel, toma a tua!

Sr. António, o senhor é testemunha… Viu o que se passou! Não conte a ninguém porque é só aqui que isto aconteceu.

“Sapatinhar ribeira acima, sapatinhar ribeira abaixo, quem souber mais que conte melhor!”

Um saco de dinheiro vai por aí… O mais pequeno que aqui está, que o apanhe, antes que seja tarde !