O lobo e a princesa
Lobu ku Prinsénsa

Havia um lobo que vivia sozinho, isolado. Sendo pescador, ia todos os dias à pesca, mas sempre sozinho. Na sua ida e vinda da pesca, passava em frente à casa dum rei que tinha uma filha, a princesa, que não gostava nada do lobo. Por isso, que fazia ela? Sempre que o lobo passasse, ela, que já tinha preparado um bacio com urina e fezes, atirava-lhe à cara todo o conteúdo do bacio.
O lobo, resignado, sacudia a cabeça, e seguia o seu caminho, pois, tratava-se da princesa, e ele era um pobre coitado. Certo dia, ao atirar a vara à agua, pescou um peixe encantado, que lhe disse:
— Ó lobo… já me apanhaste mesmo!... Mas, não me mates, não me comas!...
O lobo respondeu:
— Há muitos dias que aqui venho e não consigo nada… hoje, que já te apanhei, vou te largar?!...
Disse-lhe o peixe:
— Ouve cá, se me deixares ir, não vais te arrepender!
Então, considerou o lobo:
— Bem, há muitos dias que aqui venho sem nada encontrar, pode ser que não morra, se te largar…
Então, soltou o peixe. Passados cinco minutos, voltou o peixe encantado trazendo-lhe muitos peixes, e disse-lhe:
— Toma, a estes podes comer!
Deu-lhe ainda uma varinha mágica, e disse-lhe:
— Esta é uma varinha mágica… Tudo o que pedires, ser-te-á concedido!
Vinha o lobo a passar em frente à casa do rei, quando a princesa lhe atirou à cara, mais uma vez, o habitual conteúdo do bacio. O lobo que deixava todo o conteúdo secar sobre si mesmo, sem se limpar ou lavar, continuou sua caminhada e disse assim:
— Ó varinha mágica, em virtude de Deus te me ter dado neste mundo, que a princesa fique grávida de um filho meu!
Passado algum tempo, a princesa que não ia para nenhum lugar sozinha, que tinha tudo em casa, sempre ao lado da mãe e do pai, apareceu grávida do nada. Levaram-na, incrédulos, a todos os médicos, porque ela só podia estar doente. Grávida é que não, já que não tinha tido relações com ninguém. Entretanto, todos os médicos eram unânimes em afirmar que ela estava grávida.
Foi então que o rei a levou para a casa do sábio, e este disse-lhe:
— A sua filha está grávida, mas não teve relações com ninguém… Ela está grávida por virtudes!
O rei perguntou:
— O que faço para saber quem é o pai da criança?
O sábio disse-lhe:
— Quando a criança nascer, trará um sinal do pai dentro da mão.
A criança ao nascer, nasceu com uma bola dentro da mão. O rei foi perguntar ao sábio o que deveria fazer para saber quem era o pai. O sábio disse-lhe:
— O senhor deve organizar uma festa e convidar a todos. A criança só vai entregar a bola ao pai dela, e a mais ninguém!
Então, preparou a festa e convidou toda a gente para a festa. Todos estavam ansiosos por receber a bola da criança, independentemente de serem casados, padres ou bispos, pois, tratava-se da única filha do rei, e o rei já tinha dito que quem fosse o pai da criança, havia de se casar com a sua filha. E palavra do rei não se desmente.
Na festa todos se mostraram contentes. A princesa estava sentada com a sua criança ao colo. Todos os que entravam iam brincar com a criança. Ela, a princesa, por vezes se encantava com um ou outro pretendente a pai, e aí até se esforçava para que a criança brincasse com ele. A criança, todavia, mantinha escondida a mão com a bola, que não entregou a ninguém.
Então, foi outra vez o rei à casa do sábio que lhe perguntou:
— O senhor convidou mesmo toda a gente à festa?
Respondeu:
— Convidei a todos!
— Convidou todos os homens?
Respondeu:
— Convidei todos os homens!
Disse-lhe então o sábio:
— Veja bem!... Eu estava lá! Mas, quando eu ia para festa e ao passar pelo funco do lobo, ele lá estava com seu fumo, e, no regresso, ele estava sentado à porta do seu funco. A ele o senhor não convidou.
Respondeu o rei:
— Não!... A minha filha iria apaixonar-se por ele?!...
O sábio disse-lhe:
— Ouça, não o menospreze!... Ele é macho!...
O rei regressou e convidou de novo a todos, incluindo o lobo, mas o lobo não compareceu. Foi preciso mandar buscá-lo. Quando ele se aproximou da casa do rei, a criança que se escondia entre os braços da mãe, sempre que alguém aparecesse, mal apareceu o lobo, com aquela sua barriga, a criança abriu bem olhos.
O lobo abeirou-se da porta, mas não queria entrar, enquanto a princesa tentava esconder a criança que se atirou ao lobo, entregando-lhe a bola. A princesa, de um pulo, caiu desmaiada no chão, de tanto desgosto. Então, todos aplaudiram, e à princesa, que depois de muito chorar e tentar matar-se, só restou casar-se com o lobo.
Uma vez casada com o lobo, cobriu a cabeça com um lenço e foi se sentar à beira-mar, chorando amargamente, enquanto o lobo regressava ao funco com a criança.
Passado algum tempo, o lobo foi para cima da casa do rei e pediu:
— Minha varinha mágica, em virtude de Deus te me ter dado, ergue-me aqui um prédio tal, que a casa do senhor rei passe a comparar-se à cozinha deste meu prédio, e assim eu possa trazer a minha mulher e o meu filho para junto de mim, e me transforme no homem mais lindo e delicado do mundo!
Os seus desejos foram imediatamente satisfeitos. Então foi buscar a sua mulher e o seu filho para morarem no prédio, enquanto a mulher ficava feliz e contente com todos os amigos e familiares.
Acabou: “sapatinhar ribeira acima, sapatinhar ribeira abaixo, quem souber mais, conte melhor!”