A Samba
A Samba
Conte Diola (diola bandial)
Com. de Ziguinchor, arr. de Niassia, com. rurale d’Enampore, village d’Essyl
SénégalConteur
Anta Bassene
Niveau
moyen
Quando Samba perdeu o pai e a mãe, foi a co-esposa da mãe que ficou encarregue de o educar.
Um dia, quando iam comer, ela quis chamar o filho pelo nome, mas Samba e o meio-irmão pareciam-se como duas gotas de água e tinham o mesmo nome, e ela não conseguia saber qual dos dois era o seu filho. Chamou:
— A Samba!
E eles responderam em coro:
— A Samba!
Ela disse, dirigindo-se ao que pensava ser seu filho e realmente era:
— Chamo-te A Samba e tu respondes-me “A Samba”. Quem és tu?
Ele respondeu:
— Mãe, queres meter-me em sarilhos. Sou eu, que tu deste à luz.
— Então vem sentar-te aqui no chão. Se fui eu que te dei à luz o outro não toca nesta refeição –, disse ela, indicando o outro Samba –, vai comer com os porcos.
Então, quando deu de comer com os porcos ao outro Samba, o próprio filho disse-lhe:
— Está fora de questão que eu tome a refeição aqui enquanto o meu irmão está com os porcos. Vamos comer juntos.
— E porquê? –, perguntou a mãe.
— Porque decidi que não vou comer aqui sozinho.
Então a mulher foi buscar uma pulseira, que pôs no pulso do filho para o distinguir do outro Samba. Quando saíram para brincar Samba pegou na pulseira, partiu-a e com ela fez duas, uma que pôs no pulso do irmão e outra para ele, e disse ao irmão:
— Se a mãe disser “A Samba” respondemos os dois ao mesmo tempo, não deve responder só um, respondemos os dois. Se ela olhar para a minha mão vê a pulseira e se olhar para a tua vê a pulseira.
Um dia, quando voltavam da pastagem, a mãe chamou:
— A Samba!
Os filhos responderam em coro:
— Sim!
Ela pegou na mão de um e viu a pulseira, pegou na mão do doutro e viu a pulseira. Ficou sem palavras. Serviu-lhes arroz. Comeram tudo.
Os rapazes viveram assim até à idade adulta. Samba, o órfão, acabou por se convencer de que devia ir aonde os seus passos o levassem, para deixar Samba, o irmão, viver em paz com a mãe. Foi comprar leite e encheu uma garrafa, que fechou antes de a pendurar na porta. Depois chamou o irmão.
— A Samba!
O irmão respondeu:
— A Samba!
Ele disse:
— Já somos adultos. Vou buscar a bicicleta que usávamos para ir guardar o gado e vou até onde os meus passos me levarem.
O irmão disse-lhe:
— Samba, vou contigo para onde fores.
Ele respondeu:
— Não, fica e toma conta da tua mãe.
Ele não quis ouvir o irmão. Então este pegou na bicicleta e chegou a uma aldeia em que era difícil arranjar água. Na verdade os aldeões tinham de sacrificar um ser humano, oferecendo-o a uma jibóia, para ter acesso ao poço que havia na lagoa.
Quando chegou Samba pediu aos aldeões que lhe dessem de beber, pois tinha a garganta seca.
Responderam-lhe:
— Na verdade há um lugar a que podemos ir buscar água, mas há um monstro que mora lá. Temos de sacrificar uma pessoa para ter direito a água.
Estupefacto, ele disse:
— Ai é? Mostrem-me esse lugar.
Responderam-lhe:
— Vais ser comido.
Ele insistiu e levaram-no até ao lugar tão temido. Quando chegou à lagoa Samba inclinou-se e tirou água, kiribÿ!
A coisa perguntou:
— Quem é?
Ele respondeu:
— Um forasteiro.
Ela perguntou:
— Porque tiras água?
Ele respondeu:
— Tiro água para beber.
O monstro continuou:
— Os teus anfitriões não te disseram que hoje não têm direito a tocar nesta água? Amanhã é o dia em que estão autorizados a aceder a ela.
Ele retorquiu:
— Tu pensas que eu, o forasteiro, venho até aqui para morrer de sede? Porque não hei-de beber?
Dito isto tirou mais água e borrifou o corpo. Tirou outra vez, chap! A coisa disse:
— Quem é?
Ele respondeu:
— Sou eu outra vez.
Ela perguntou-lhe:
— Estás a tirar água para quê?
Ele respondeu:
— Para me lavar.
Ela disse-lhe:
— Para te lavares! Não te disseram que não se mexe assim na minha água?
E Samba voltou a tirar, chap!
Ela perguntou:
— Quem é?
Ele respondeu:
— Sou eu.
Ela perguntou:
— Estás a tirar água para quê?
Ele respondeu:
— Para dar ao meu cão.
Ela disse:
— Não, não, tu aí, se eu te deixar fazer o que quiseres vais acabar com a minha água!
Samba continuou a tirar água e a coisa perguntou:
— Quem é?
Ele disse:
— Disse-te que era eu.
— Estás a tirar água para quê?
— Para a despejar na terra, há muita água.
O monstro disse:
— Então vieste preparado para me arranjar sarilhos... espera que já vou.
A Samba tinha uns cartuchos e quando a coisa apareceu disparou sobre ela. Ela caiu, mas ele tornou a disparar. Ela imobilizou-se e disse:
— Então foi a ti que enviaram?
Ele respondeu:
— Se tu comes pessoas, bem, hoje sou eu que vou comer-te.
Ele matou a jibóia, cortou-lhe o rabo e meteu-o no saco, depois foi buscar água com um balde e foi à procura da jovem que ia ser sacrificada. Encontrou-a a chorar amargamente. Consolou-a e disse:
— Toma esta água e bebe um bocadinho.
Ela disse:
— Não posso beber, não vou beber.
Ele perguntou:
— Por que razão não queres beber?
Ela respondeu:
— Hoje, na aldeia, é a minha família que tem que ofertar uma rapariga à jibóia e sou eu que vou ser sacrificada para que tenham água.
Entretanto toda a aldeia se preparava para o sacrifício e para oferecer a jovem, para depois poder tirar água. Os tantans ressoavam.
Quando chegaram à lagoa mandaram a rapariga entrar nela, que desceu até à zona em que normalmente estava a jibóia. O animal não reagiu.
Disseram-lhe:
— Desce mais um bocadinho.
Ela respondeu:
— Estou a tocar-lhe, mas acho que não está viva. – A água ficou toda vermelha. – Está morta.
Ela atou a jibóia e os aldeões tiraram-na da água e todos explodiram de alegria, com cantos e danças.
O chefe da aldeia perguntou:
— Qual de vocês recebeu um forasteiro em casa?
Toda a gente dizia que tinha um hóspede em casa.
O chefe disse:
— Se alguém aparecer com o rabo deste animal saberemos recompensá-lo.
Entretanto o rapaz dirigira-se para a floresta e por lá andou muito tempo, até que encontrou outro ser maléfico, que fazia as pessoas reféns. Este espírito perguntou-lhe:
— Quem é?
Ele respondeu:
— Sou eu.
— Tu quem?
Ele respondeu:
— Eu, Samba.
O outro disse:
— Os teus anfitriões não te disseram que este sítio é inacessível? Aqui ninguém passa.
O rapaz disse:
— Eu vou passar.
Ele teimou em passar e o espírito maléfico bateu-lhe com a cabaça que levava com ele. Agarrou-o e fechou-o em casa. Entretanto a garrafa de leite que Samba tinha deixado com o meio-irmão inchou e entornou-se. O irmão ficou com medo e disse à mãe:
— Mãezinha, perdi o meu irmão, também me vou embora! Cuida da casa sozinha.
Pegou na outra bicicleta e partiu. Quando chegou à aldeia em que o irmão tinha estado, toda a gente acorreu, pensando que fosse ele. As pessoas perguntavam-lhe: “A Samba, onde estavas?”
Ele disse:
— Não, não foi a mim que viram, foi o meu irmão. Digam-me para onde foi –, continuou ele.
Disseram-lhe:
— O teu irmão disse que ia para a floresta.
Ele foi-se embora e chegou ao sítio em que estava o espírito maléfico, que lhe perguntou:
Quem és tu e aonde vais?
Ele respondeu:
— Vou ao coração da floresta.
O outro disse:
— Ninguém entra aqui.
Ele entrou e antes que o espírito maléfico lhe batesse deu-lhe um tiro. O ser maléfico caiu. Então ele entrou em casa do espírito maléfico e pôs-se a abrir as portas todas, chamando: “A Samba, A Samba!”
Reinava o silêncio. Quando abria uma porta só encontrava pessoas que o espírito maléfico tinha feito reféns, e dizia-lhes: “Vão-se embora, vão-se embora!”
Estava espantado por ver tanta gente.
Continuou a abrir portas, até que entrou no quarto em que estava A Samba. Disse-lhe:
— Na verdade, quando a garrafa se entornou, soube que estavas com problemas. Foi por isso que vim ter contigo.
Foi assim que libertaram muitas pessoas, levando-as com eles. O irmão conduziu a multidão e ele ficou atrás, para a guardar. Quando chegaram à aldeia houve quem dissesse: “Esta gente ficou refém durante anos.” “tieh! Foram vocês que os tiraram de lá?”
Perguntaram ao primeiro rapaz:
— Não sabemos quem foi que matou o bicho que estava na lagoa. Foste tu? Isto é mesmo muito embaraçoso para nós.
Ele tirou o rabo do animal e entregou-o.
Disseram-lhe:
— Então foste tu que o mataste. Bem, o que queres que te dêmos de recompensa?
Ele respondeu:
— Não preciso de pagamento, dêem-me em casamento a rapariga que iam sacrificar ao animal.
Os aldeões acompanharam a jovem até à aldeia do marido. Eles ficaram com o tesouro encontrado em casa do espírito maléfico e construíram uma bela casa. A Samba guardou o tesouro. A madrasta mudou de comportamento e amou-o como se fosse filho dela. E viveram em paz até ao fim dos seus dias.
E assim acaba a história.