Uma misteriosa maternidade
Egënd enangërëx
Era uma vez uma linda rapariga chamada Thiéra que conheceu um jovem que veio não se sabe donde. Era frequente Thiéra dizer: “Vou ao mato buscar fruta.” Na verdade ia encontrar-se com o jovem.
Algum tempo depois ficou grávida. A gravidez de Thiéra deixou as pessoas da aldeia muito admiradas e a perguntar-se quem seria o autor. No fim da gravidez Thiéra deu à luz um belo rapaz, a quem foi dado o nome de Thiara. O tempo passou. Thiara crescia e depressa começou a andar. As pessoas, sempre admiradas, perguntavam: “Thiéra, com quem tiveste este belo filho?” E ela respondia: “Não sei, não faço a mínima ideia!”
Apesar desta resposta as pessoas insistiam e estavam sempre a perguntar-lhe o mesmo. Um belo dia decidiram convocar uma assembleia geral.
O homem que veio não se sabe donde também foi assistir à reunião. Era muito feio e tinha o corpo coberto de chagas.
Os aldeões dirigiram-se a Thiéra, a mãe da criança, nestes termos:
— Como não sabes quem é o pai do teu filho vamos prender-lhe guizos nos pés e cantar-lhe uma canção.
E começaram a cantar: “Thiara, mostra-nos o teu pai, Thiara, mostra-nos o teu pai, se não dizemos que caíste do céu! Quem é o teu pai, Thiara? Caíste do céu? Quem é o teu pai?”
Então Thiara correu, jer, jer, jer, jer, e apontou o jovem cheio de feridas. Os aldeões gritaram: “Não, não, ele não, não pode ser ele!”
Thiara correu outra vez, jer, jer, jer, jer, jer, jer.
Os aldeões começaram outra vez a cantar. “Vá, Thiara, mostra-nos o teu pai. Caíste do céu? Quem é o teu pai?”
— Thiara continuava a correr, jer, jer, jer, jer, jer, jer, e a apontar o homem das feridas. As pessoas continuavam a não querer aceitar o que a criança lhes dizia. “Não é verdade, não, não é verdade. O pai é aquele ali, aquele belo rapaz! Não, não é este homem coberto de chagas, não é ele!”
E como Thiara insistia e continuava a apontar o homem das feridas, as pessoas ficaram desapontadas. Toda a aldeia falava do assunto. Thiara dava sempre a mesma resposta.
Então o homem que veio não se sabe donde foi ter com Thiéra e disse:
Thiéra, as pessoas estão zangadas contigo por causa deste filho que tiveste comigo. Um vento muito forte há-de vir buscar-te. Quando chegar não tenhas medo. Arruma todos os haveres que tens no quarto, põe-nos no pátio e põe-te lá no meio.
Triste por ter desagradado aos aldeões, Thiéra aceitou de boa vontade a proposta do homem que veio não se sabe donde.
Thiéra chorava enquanto reunia os haveres, que ia pondo no meio do pátio.
As pessoas perguntavam-lhe: “Porque é que estás a tirar as tuas coisas e a pô-las aí?”
Repetiram a pergunta três vezes, mas Thiéra não lhes respondeu. Ia juntando as coisas e chorando baixinho. De repente ouviu-se um grande barulho, uuuuuuuu. Um vento forte levantou-se num redemoinho e de repente os aldeões viram Thiéra e o filho, Thiara, a voar para o céu: “Vejam a Thiéra, vejam-na, vejam-na!” Perderam-na de vista. Ela foi levada para o céu pelo homem que veio não se sabe donde, o tal que estava coberto de chagas. Quando chegaram ao céu, com o filho, instalaram-se.
Um dia ela fez puré de ervilhas e batata. Chamou o marido para comer, mas ele perguntou:
— O que é que preparaste?
Ela respondeu:
— Puré de batata.
Ele disse que não comia tal puré.
Os dias iam passando e a cena repetia-se. Um dia Thiéra disse aos vizinhos:
— Desde que o meu marido me trouxe para cá que se recusa a comer puré. Já não sei o que hei-de fazer!
Eles perguntaram-lhe:
— O que é que preparas para ele?
Ela respondeu:
— Puré de batata.
Então disseram-lhe:
— Ah! Aqui cozinhamos estrelas. Tens de ir apanhar estrelas. Arranja um pilão e um almofariz de ferro, pila as estrelas e depois cozinha-as. Vais ver que ele come.
Ela foi apanhar estrelas, pilou-as e cozinhou-as. Pronta a refeição, chamou o marido:
— Vem comer, a comida está feita.
Ele perguntou-lhe:
— O que é que fizeste?
— Estrelas –, respondeu ela.
Ele comeu.
Na verdade ela ainda não sabia que estava no céu.