A toupeira, a térmita e a formiga
Júusa nġi ngbúŋ ngi
A toupeira e a térmita são ambas pedreiras, enquanto que a formiga é caçadora.
— Quantas pessoas vivem no teu quarto? –, perguntou um dia a toupeira à térmita.
— Hum... no meu quarto podem entrar muitos animais –, disse ela –, a hiena, a jibóia, a serpente, assim como outros animais, como o porco-espinho, e muitos outros ainda. E agora podes tu dizer-me quantos seres vivem no teu quarto?
— Também há muitos –, respondeu a toupeira –, não consigo contá-los, mas posso citar-te alguns, como o rato e a serpente. São tantos a entrar e a sair sem parar... não seria capaz de os reconhecer.
A térmita perguntou:
— O teu quarto não tem só uma porta?
— Não, há portas por todo o lado –, respondeu a térmita.
A toupeira disse:
— Só com uma porta, como acontece em minha casa, seria fácil controlares as entradas e as saídas. No meu quarto só uma pessoa me incomoda, por causa da vestimenta, é o porco-espinho. Se por acaso se aproxima de alguém pica-o, é por isso que eu não gostava que ele viesse para o meu quarto.
A térmita chamava-se Siga.
— Deixa-o ficar no teu quarto, não é grave.
— Quanto a ti –, disse a toupeira –, a jibóia que está no teu quarto, o que faz ela lá?
— Se vir um animal devora-o –, disse a térmita.
— Não, essa aí não pode viver com ninguém.
A formiga é caçadora, tal como a hiena, que estava no mesmo quarto que a jibóia. Como havia sempre discussões entre a jibóia e a hiena, esta última foi chamada para lhe perguntarem se o quarto realmente lhe pertencia. A hiena respondeu:
— Não, o quarto não é meu.
A toupeira disse à térmita que no quarto dela só havia uma porta de entrada, e acrescentou:
— Quando se faz tarde fecho-a, mas vocês nunca fecham a vossa.
Um dia quase todos os ocupantes do quarto foram dar um passeio à noite. No regresso viram que a jibóia tinha impedido o acesso à porta de entrada. Ninguém podia entrar em casa. Constatando a situação, a hiena perguntou:
— Quem bloqueou a entrada?
A jibóia pôs-se imediatamente de pé e deu uma bofetada à hiena, que disse:
— Tem cuidado, atacas-me e esqueces que tenho dentes capazes de te esmagar, enquanto tu não és capaz de me fazer o mesmo.
A briga rebentou entre as duas protagonistas. A hiena saiu vitoriosa do confronto.
A toupeira disse:
— Se brigam não passam a noite aqui.
Os outros moradores retorquiram:
— Não deves fazer isso, não somos todos culpados, os únicos responsáveis desta guerrinha são a jibóia e a hiena.
Mandaram vir a térmita, para que desse a sua opinião. Esta chegou, ouviu as explicações e disse que se continuassem a brigar deitava a casa abaixo e ia-se embora dali.
Eles sabiam que se ela se fosse embora a casa caía.
A térmita cumpriu a palavra e foi viver para outro sítio. Alguns dias depois a casa ruiu.
Os animais, sem abrigo, foram informá-la da situação.
— Eu tinha razão. Quando vos avisei vocês não perceberam, mas hoje dão-se conta de que eu tinha razão.
A toupeira voltou e disse à hiena:
— Podes deixar o vosso quarto, assim já não tens de viver com a jibóia.
A toupeira construiu nova casa, prevendo uma divisão para cada um. Só que a jibóia e a hiena encontraram-se num único e mesmo quarto. Que havia de se fazer para resolver o imbróglio?
Os co-inquilinos decidiram que a hiena e a jibóia deviam pagar uma multa cada uma e disseram à hiena que fosse caçar, uma vez que era uma grande caçadora.
— E tudo o que caçares será dividido por todos.
Foi por isso que a hiena chamou a sua amiga caçadora, a formiga, para que a ajudasse. Esta disse:
— Está bem, vou caçar.
Logo que a formiga se foi embora a hiena foi caçar a térmita. Quando chegou a casa, de regresso da caçada, estavam todos à espera dela, que lhes mostrou a presa, a térmita.
— Mataste a térmita? Porque fizeste isso? –, exclamaram os outros. – Não devias ter feito isso, a térmita é uma grande pedreira e constrói casas para nós.
— Esta é a minha caça, eu só caço térmitas. Agora vamos ficar todos no mesmo quarto, para que não haja mais complicações.
Mas o problema é que a térmita não pode viver com o porco-espinho, por causa dos espinhos, e pediu que ele saísse do quarto. Este disse:
— Não posso fazer nada contra a vontade divina, nasci assim, e se é por isso que queres que eu saia do quarto, não há problema, vou-me embora.
A toupeira também pediu a todos que saíssem de casa dela. A partir de então cada um devia cuidar de si.
Quanto à hiena, voltou para casa da toupeira, para que ela a albergasse, mas a toupeira manteve a decisão e recusou. É por isso que a hiena não tem residência fixa, hoje está num sítio e amanhã noutro, não tem morada fixa.