História do Mam Tamba e do búfalo
Siwoolo Siwoolo yehyeng kürleng
Numa mata de grandes dimensões, residiam búfalos, dentre os quais se destacava um casal, por ser o mais carinhoso e amável de todos. O casal tinha um filho que não se distanciava dos pais que também brincavam com ele com muito afecto. Um dia, porém, o filho afastou-se, indo brincar com outras crias noutras zonas, ficando os pais muito tempo à sua espera. Ante a demora e ausência do filho, os pais decidiram partir para a lala grande à procura de alimentos. Saciada a fome, partiram à procura de água no riacho onde costumam beber. No local encontraram o Mam Tamba, caçador conhecido e temido por todos os animais da área. Ele, entretanto, à partida não os impediu de beber. Só que ao prepararem-se para abandonar o local, após terem matado a sede, o caçador atirou sobre eles, matando a mãe. Morta, levou-a para casa para fazer da carne alimento para a sua família.
Os búfalos de corrida voltaram apavorados à mata onde residiam, sem saberem o que fazer, tendo também chegado o filhote daquela que fora morta, cantando a seguinte canção, a perguntar pela mãe:
— Ciólu djê, Ien Ien Curien, Ci djumá iê n´té ba fâ ien ien curien? Ci djuma ien te ba fâ ien ien curien? (búfalos, búfalos, quem foi que matou a minha mãe?).
Ele indagava assim sobre o possível paradeiro da mãe pensando que ela pudesse ter sido morta por algum dos búfalos. Nenhum dos búfalos quis responder, até que ao chegar perto do mais velho deles, este decidiu contar o sucedido. O mais velho dos búfalos disse-lhe em resposta, cantando também, que não foram os búfalos que mataram a sua mãe mas sim o caçador Mam Tamba. Na sua canção o velho búfalo dizia:
— Ciólu uó, ien ien curien Mam Tamba ié ité bâ fá ien ien curien.
O filhote, tomado de ira, perguntava por que motivo o caçador matara a sua mãe:
— A iâ fá mun cu la ien curien? O velho búfalo replicou cantando:
— A iá fâ dji cuó la ien ien curien” (matou-a por causa da água). O filho então respondeu dizendo:
— Dji cu man fari si ien ien curien, n´bem djô la, o que quer dizer: só por causa da água não se deve matar, vou vingar-me.
Quanto à pergunta sobre o local onde residia, o velho disse-lhe que ele morava numa tabanca não longe e a ocidente do local onde costumam beber água. O filho fez saber que se vingaria da morte da mãe. No dia seguinte, partiu à procura do caçador. Aproximando-se da aldeia deste, transformou-se num verdadeiro ser humano, para melhor se disfarçar, perguntando a todos quantos encontrava pelo caminho pelo Mam Tamba, até que o encontrou. Apresentou-se a ele como um hóspede e foi também acolhido por este.
Após alguns dias de hospedagem em casa do caçador, como resultado da observação que vinha fazendo do dia-a-dia do caçador e dos seus familiares, notou que o anfitrião, repetidamente, todas as manhãs, chamava as crianças todas para juntas partilharem com ele o pequeno-almoço, repetindo o mesmo gesto na hora do almoço e do jantar, sem fazer diferença entre elas.
A seguir, agrupadas à volta dele, contava-lhes histórias até ficarem com sono, momento em que regressavam às suas casas para dormirem. Comovido com o carinho e atenção que o Mam Tamba, pessoa que jurara vingar pela morte da sua mãe, dispensava repetidamente às crianças, desapareceu a raiva que guardava dele. Foi desta maneira que, dias depois, se despediu do seu anfitrião, para voltar à sua aldeia.
Como é costume nas aldeias, ao despedir-se, o hóspede é acompanhado por alguma distância pelo anfitrião. Assim foi naquele dia. Pelo caminho conversou bastante, tendo o búfalo manifestado a sua satisfação por ter conhecido e ter sido agasalhado pelo caçador. Mam Tamba, desejando boa viagem ao visitante decidiu retroceder. O jovem búfalo transformado em homem, decidiu então desvendar o segredo da sua visita. Confessou ao caçador que ele era filhote do búfalo morto por ele na lala e, que se transformara em homem com a intenção de se vingar. Continuando, disse que mudara de ideia comovido pelo tratamento que o caçador dava diariamente às crianças de igual modo, sem distinção. Que esse gesto que ele testemunhou durante os dias de hospedagem lhe tocara profundamente, levando-o a desistir da sua intenção para sempre, porque imaginava quanta falta o caçador iria deixar a essas crianças se levasse a cabo o seu intento.
Foi assim que se despediram, indo cada um para o seu lado. Chegado a casa, como era habitual à noite após o jantar, Mam Tamba repetindo o gesto que comovera o seu hóspede, ao ponto de lhe valer o perdão do mesmo, contou a história daquele, repetindo a mesma canção que o jovem cantou ao contar-lhe como soubera que foi ele que matara a sua mãe. Termina assim a história de Mam Tamba e do búfalo, com um final feliz, graças sobretudo ao gesto de bom tratamento às crianças.