A hiena bouki e os passaros
Suluu niŋ saŋ la taa kulliwoolto

Conte Bassari (onyan)
Région de Kedougou, dép. Salemata, ar. de Dar salam, village d’Edane
SénégalConteur
Thiabarine Boubane
Niveau
élémentaire
Um dia Bouki, a hiena, quis ir à caça com os pássaros chamados Sënar. Eles perguntaram-lhe:
— Mas como vais fazer? Quando caçamos escondemo-nos na folhagem das palmeiras e tu não tens penas para voar.
A hiena pediu-lhes que lhe dessem algumas penas, para que conseguisse ir com eles. Eles deram-lhas mas disseram:
— Ouve, há rolas que dizem: “Acordem, acordem, acordem!” Todas as manhãs anunciam a hora de acordar. Acima de tudo não se deve comê-las.
A hiena concordou.
Voaram e poisaram na palmeira. Mas Bouki não resistiu à imensa vontade de comer rolas. À noite começou a comê-las uma a uma e acabou por as devorar todas. No dia seguinte de manhã não havia ninguém que os acordasse. Um dos pássaros despertou muito depois do que era normal e acordou os outros, a gritar.
— Essa que veio connosco comeu as rolas todas. Que vamos fazer a esta hóspede, que não cumpriu a palavra?
— Tiramos-lhe as penas todas que lhe emprestámos –, responderam os outros.
Puseram mãos à obra e tiraram as penas todas à hiena. Tendo-a assim castigado, os pássaros levantaram voo e deixaram-na sozinha na palmeira. Agora Bouki não conseguia descer da árvore. Um hipopótamo que vinha do mar passou por ali. Levantou a cabeça e vendo Bouki perguntou-lhe:
— Ei, tu aí!, o que fazes aí em cima?
— Foram os pássaros que me abandonaram aqui –, respondeu Bouki –, tiraram-me as penas todas! Como hei-de descer desta maldita palmeira?
O hipopótamo sugeriu-lhe que se deixasse cair e ofereceu-lhe as costas para amortecer a queda. Bouki não hesitou um segundo, fechou os olhos, tomou balanço e ongayar !, atirou-se do cimo da árvore e aterrou com toda a força em cima do hipopótamo. Rebolaram os dois até ao mar e acabaram na água. Bouki estava aterrada, pois não sabia nadar.
O hipopótamo ainda lhe disse:
— Não tenhas medo! Toda esta superfície me pertence, a água é o meu reino. Só peço que te vás para a parte de trás das minhas costas, para que te transporte melhor. Ajeita-te!
Bouki olhou para as costas do hipopótamo e disse:
Tenho medo deste furúnculo que tens nas costas, não consigo aguentar-me em cima dele.
O hipopótamo respondeu:
— Não é um furúnculo, é uma bossa de gordura, não é um furúnculo.
Bouki chegou-se um bocadinho mais para trás nas costas do hipopótamo e começou a pensar:
— Antes de chegarmos vou provar esta bossa cheia de gordura.
O hipopótamo ouviu isto e perguntou:
— O que é que estás a dizer, Bouki?
— Nada, quero apenas agradecer-te por me ajudares a atravessar este mar –, respondeu Bouki.
A alguns metros da margem Bouki mordeu a bossa com muita força e saltou logo para lá.
— Ai, ó! –, gritou o hipopótamo. – Na água os peixes vão morder-me a ferida e na margem as moscas vão fazer o mesmo.
Apesar das dores, o hipopótamo chegou à margem. Pessoas que passavam por ali viram-no estendido e pensaram que estava morto. O hipopótamo contou-lhes a sua desdita e elas decidiram vingá-lo. Começaram a falar em voz alta.
— Há um hipopótamo morto à beira-mar. O que lhe terá acontecido?
— Não se sabe, mas temos de nos organizar para o esquartejar.
— Quando um hipopótamo morre na margem não se pode esquartejá-lo lá, é preciso despejar-lhe água em cima, muita água. Como havemos de fazer?
Temos de apanhar quem o matou e amarrá-lo ao hipopótamo.
Bouki apareceu e gritou:
— Fui eu que o mordi.
Decidiram então atar Bouki e o hipopótamo um ao outro. Quando começaram a atar as cordas, o hipopótamo inspirou profundamente e Bouki disse:
— Ele está a mexer-se, ele está a mexer-se!
As pessoas responderam:
— Não, não, é assim que faz quando o matam, é normal, podemos ter a impressão de que se mexe, mas não.
E continuaram a amarrar Bouki.
— Bem vos disse que ele estava a mexer-se –, disse Bouki.
Mas as pessoas respondiam-lhe sempre a mesma coisa.
Quando acabaram de os atar, hop, o hipopótamo levantou-se, yoyët !, e atirou-se, boxuŋ ! Ficou debaixo de água durante muito tempo e depois emergiu.
— Olha que ainda estou contigo –, disse Bouki.
— Muito bem –, disse o hipopótamo. E mergulhou outra vez, ficando debaixo de água o mesmo tempo.
Depois voltou à superfície.
— Ainda estou contigo –, disse Bouki.
Ele mergulhou pela terceira vez, bem até ao fundo. Desta vez Bouki morreu.