O filho desobediente

Mnin dzobdient

​Numa tabanca havia um casal que tinha um filho muito desobediente. E, como desde que nasceu chorava muito, levaram-no a um curioso que lhes disse que, pelo seu signo, a criança mataria alguém, quando tivesse doze anos de idade.

A criança foi crescendo, crescendo, crescendo, crescendo, e todos os dias o pai o chicoteava, sem dizer à mãe o porquê. A mulher, já com raiva pelo comportamento do marido, disse-lhe:

— Mas por que bates todos os dias no menino, sem que este tenha feito nada?

O marido ficava sempre calado, pois, estava já prevenido sobre o que poderia acontecer.

Quando o rapaz fez doze anos, deu-lhe uma catana para ir entregar a um vizinho numa outra zona. Então, o rapaz, que ia passando numa ribeira, encontrou um homem e disse:

— Eu matava este homem, agora!... E se calhar, vou mesmo matá-lo!

Então, se lembrou e disse para consigo:

— Se o meu pai já me bate todos os dias, sem nada ter feito, se eu matar o homem, agora ele vai me matar também!

Então, foi entregar a catana ao vizinho e, ao regressar à casa, o pai perguntou-lhe:

— Não te aconteceu nada pelo caminho?

Ele respondeu:

— Oh! Papá!... O senhor não vai acreditar! Eu ia matar um homem, mas, como me lembrei de que o senhor tem vindo a bater-me diariamente sem motivo, não o matei, deixei a catana, e voltei para casa.

Levando em conta que o filho era desobediente, o pai mandou-lhe ir guardar umas vacas, dizendo-lhe:

— Olha, toma esta vara e vai dar de comer às vacas… Mas, escusa-te de voltares para casa, sem essa vara ou com ela danificada!

O rapaz foi e chegou a um chafariz onde se encontravam uns miúdos a apanhar água, e, um deles ao vê-lo com a vara, disse:

— Vede que varinha bonita!...

E, dirigindo-se ao rapaz, disse:

— Empresta-ma!

O rapaz respondeu:

— Olha, a vara não é minha… Não posso emprestá-la a ninguém, porque o meu pai disse que, se ela se partir, não mais devo voltar para casa.

Mas o miúdo insistiu tanto, que acabou emprestando. Começaram então a brincar com a vara, até que ela se partiu. O rapaz pôs-se a chorar, perguntando-se sobre o que iria fazer:

— O papá disse que, se eu partisse a vara, não precisava de voltar a casa… Agora, já não volto a casa!

Então, pôs-se a caminhar sem destino. Quanto às vacas, quando terminassem de comer, voltariam para casa. É que as vacas, depois de comerem, sempre voltam para casa, para dormirem no lugar habitual.

Tendo caminhado por algum tempo, o rapaz chegou a uma ribeira onde encontrou um homem a bater com um pau no tronco de uma árvore, para retirar mel da abelha. Então, disse-lhe:

— Ó senhor, porque não lhe atira água… que assim fica com mais mel?

O homem respondeu que não tinha água. O rapaz replicou que tinha um garrafãozinho de água que lhe poderia dar. Deu-lhe a água que colocou no buraco, e o mel saiu.

Na altura em que o rapaz prosseguia a caminhada, como já não tinha a água, começou a chorar. Então, o homem disse-lhe que não precisava de chorar e ofereceu-lhe um pouco daquele mel, dizendo que era melhor do que a água.

Recebeu o mel e foi andando. Andou, andou até chegar a uma outra zona, onde encontrou um senhor que morava numa casa com um rapaz que tinha perdido a mãe, e parou lá. Encontrou-os a comer arroz seco e disse-lhes:

— Porquê que não comem arroz com mel?

O homem respondeu que não tinham mel. O rapaz disse então que tinha um pouco de mel e que podiam comer arroz com mel. Comeram arroz com mel e, quando terminaram de comer, o rapaz ia a sair quando viu que não tinha nada nas mãos. Começou então a chorar. O homem tinha o azar de não ter nada para oferecer. Então disse:

— Oh!… Meu filho!... Toma este pouco de terra, porque não tenho mais nada… Leva-o na mão!

Depois, chegou num rio onde um senhor estava a tentar tapar a água que saía, impedindo-o assim de pescar. Estava usando a lama. Por mais lama que colocasse, a água levando a lama, continuava saindo. Então, o rapaz disse-lhe:

— Se colocar terra seca, em vez de lama, não seria melhor?

Respondeu o homem:

— Olha, eu não tenho terra seca… Se a tivesse, já a tinha colocado!

O rapaz disse:

— Empresto-lhe a minha terra!

Com a terra emprestada, o homem conseguiu tapar a água, e apanhou uma quantidade grande de peixes. Quando o rapaz ia prosseguir a caminhada, pediu ao homem que lhe devolvesse a sua terra. Mas, como ela estava já molhada, o homem ofereceu-lhe dois peixes, em vez de terra, dizendo-lhe:

— Comes um e levas o outro!

Pegou nos peixes e foi andando. Estava ele a descansar, sentado à sombra de uma árvore, quando apareceu um falcão que lhe tirou o peixe das mãos. O rapaz começou a chorar, e disse:

— Ó falcão, calma!... É a última coisa que eu tinha… Não podes tirar-ma assim! Vais ser castigado, vais receber um grande castigo!

E o falcão, sem se importar, continuou comendo o peixe. Ao terminar de comer, o falcão que estava poisado num ramo seco, ao voar, o ramo partiu. O rapaz pegou no ramo, colocou-o aos ombros e continuou o seu caminho.

Quando chegou a uma outra zona, encontrou uma senhora que estava a cozinhar para uns meninos de uma escola. Cozinhava numas panelas de barro, com palha seca. O rapaz disse-lhe:

— Ó minha senhora, por que não cozinha com lenha?

Ela respondeu que não cozinhava com lenha porque naquela zona não havia lenha. Ele retrucou:

— Se cozinhar com lenha, a comida fica pronta mais rápido e você se despacha mais depressa.

A senhora disse ao rapaz que lhe emprestasse a sua lenha e o rapaz emprestou. Quando estava a colocá-la ao lume, veio um vento forte e queimou toda a lenha. Então o rapaz desatou a chorar e a senhora disse-lhe:

— Oh! Meu filho!... Não precisas de chorar… Vou te dar uma panela, das mais novas que eu tenho aqui!

Ele tomou a panela e continuou a andar. Foi, foi, foi, foi… até chegar a uma ribeira onde se encontrava um senhor a trabalhar com lama, e que tinha deixado resto de lama pelo caminho.

O rapaz que ia com a panela à cabeça, pôs os pés na lama, escorregou e caiu, e a panela quebrou-se. Então desatou a chorar e a brigar com o homem, dizendo que foi ele quem tinha deitado lama no caminho e que teria de lhe pagar a panela.

Como era na época de São João e o homem tinha um tambor que iria tocar e que estava pendurado numa árvore, respondeu ao rapaz:

— Olha, toma este tambor… é mais útil do que aquela panela!... Toma o tambor e vai tocar!

O rapaz ficou contente e pensou em regressar a casa, levando o tambor em substituição da vara. Mas quando passava numa tabanca, encontrou aí gente a dançar e a tocar, mas o instrumento de que dispunha para percussão, era um balaio. Ele perguntou:

— Mas vocês conseguem tocar e dançar ao som de um balaio?

Eles responderam que não tinham mais nada. Então, ele disse que tinha um tambor, com melhor som, e que certamente poderiam tocar e dançar melhor. Aí, o homem que tocava no balaio, pediu o tambor emprestado. Mas, ele disse que não, porque, se o tambor se partisse, ele não iria conseguir levá-lo para casa. O homem respondeu que se o tambor se partisse, lhe dariam uma vaca em substituição.

O rapaz ficou contente e emprestou o tambor. Começaram a tocar e a dançar, e a festa ficou muito melhor, até que o tambor estourou. Com o tambor danificado, o rapaz pôs-se a chorar. E o homem disse-lhe:

— Não chores!... A promessa que te fizemos, vamos cumpri-la… Podes desamarrar a vaca e levá-la!

O rapaz pegou da vaca e levou-a consigo para a casa do pai. Quando chegou, contou ao pai tudo o que lhe tinha acontecido, desde a vara até à vaca. E concluiu:

— Ó papá, a vara que o senhor me deu, deu-me uma botija de água, a botija de água deu-me mel de abelha, o mel deu-me terra, a terra deu-me peixe, o peixe deu-me lenha, a lenha deu-me uma panela, a panela um tambor e o tambor a vaca que eu trouxe em substituição da vara.

E o pai respondeu que tudo o que lhe tinha acontecido, era pelo facto de ele ser desobediente. Porque, se ele fosse obediente, nada disso teria acontecido com ele.

O rapaz ficou contente e disse que a vaca era do pai. O pai disse-lhe que poderia ficar em casa, ajudando-o na lavoura, e que a vaca pertencia ao rapaz.

E, assim, a história terminou. Quem for o mais novo, que vá apanhar, e o mais velho que vá amarrar.