A jovem perfeita
Mwana phwo mupema

Numa aldeia do Moxico, um homem tinha uma linda filha. Todos os rapazes que passassem por ela, almejavam muito tê-la como amiga. Alguns no seu íntimo pensavam: «quem sabe até tê-la como futura esposa». Os que a pretendiam como esposa, quando fossem ter com os seus pais para pedir a sua mão, o pai aceitava sem nenhuma contestação, porém impunha a seguinte condição:
— Conforme estão a ver-me já estou velho, se conseguir lavrar a porção de lavra que sobrou, aceitá-lo-ei como esposo da minha filha.
Assim, os jovens propunham-se a fazer o que o futuro sogro impunha. Apareceu um, ao início deram-lhe uma enxada, machado e uma faca, e o pai da jovem disse-lhe o seguinte:
— Começa a lavrar a partir deste marco até além, sem descansares. Se conseguires cumprir, podes considerar-te meu genro.
O jovem, obedientemente, pegou na enxada e começou: puku, puku, puku, puku, puku, puku… E lavrava a terra sob o olhar atento da mãe da jovem.
Depois de lavrar alguns metros, suspirou:
— Ui!
Tentou levantar-se um bocado, mas a sogra que o acompanhava, vendo-o a espreguiçar-se, disse-lhe:
— O papá descansou, assim a minha filha não vai ser sua mulher. Pronto, vamos embora para casa.
No dia seguinte, apareceu mais um outro pretendente. Deram-lhe os mesmos utensílios e ele começou a trabalhar: puku, puku, puku, puku, puku, puku. Quando chegou a meio, exclamou:
— Ui!
Em seguida espreguiçou-se. A mãe da jovem, vendo isto, perguntou-lhe:
— Papá, já estás cansado? Assim não vais ficar com a minha filha.
Momentos depois, surgiu mais um outro jovem, de uma altura reduzida em relação aos dois primeiros. Por isso ninguém lhe dava valor, diziam-lhe:
— Você, assim mesmo, o que vai fazer?! Se apareceram homens com uma estrutura aceitável e não conseguiram alcançar o objectivo, você o que vai fazer?
Ele respondeu:
— Vou tentar.
Depois, foi com a futura sogra ao local da provação. Chegado à lavra, deram-lhe, igualmente, enxada, machado e faca. Em seguida, ouviu com bastante atenção as instruções passadas pela mãe da jovem:
— Começa aqui e termina ali, sem descansares. Se conseguires cumprir, quando formos a casa, a minha filha será considerada tua esposa para sempre.
O jovem pequenino começou: puku, puku, puku, puku, puku, puku. Foi avançando até ultrapassar o sítio onde os outros tinham ficado. Seguidamente, ele firmou a enxada numa mão e chamou pela futura sogra:
— Mamã, mamã, – com a outra mão, indicando onde terminava a lavra, perguntou – aquela parte também pertence à mamã?
A futura sogra respondeu pacientemente:
— Sim pai, aquela parte também é nossa.
E continuou a fazer uma série de perguntas, pois, assim descansava um pouco.
— Mãe, descansei?
— Não pai, prossegue.
E ele prosseguiu: puku, puku, puku, puku, puku, puku. Novamente, levantou o braço:
— Mamã, mamã, ali adiante também tem lavras?
A futura sogra respondeu:
— Não pai, tudo o que está mais à frente são matas. As lavras só são as que estão aqui.
Perguntou novamente:
— Mamã, descansei?
A mãe da jovem, pacientemente respondeu:
— Não descansaste, meu filho.
E o jovem continuou a trabalhar, puku, puku, puku, puku, puku, puku, até que voltou a dizer:
— Mamã, deixei a minha roupa atrás, reparaste se as formigas estão a roer?
A sogra perguntou:
— Em que lado?
Ele explicou:
— Mais além!
E a sogra respondeu:
— Não meu filho, as calças estão em bom estado.
E novamente o jovem perguntou:
— Mamã, será que parei?
— Não, meu filho.
— Mamã, então a lavra acabou!
A sogra, feliz, começou a bater as palmas e a gritar:
— Wo, wo, wo, wo.
Logo de seguida, partiram para a aldeia e aproximaram-se da varanda onde se encontrava o sogro a repousar. Este, assim que os viu, perguntou à sua esposa:
— Então, mulher, ele acabou de lavrar sem descansar?
Ela respondeu:
— Sim, mano.
Finalmente, o jovem levou a rapariga para a sua residência e fê-la sua esposa. Tiveram muitos filhos e foram felizes por longos anos.
Lição: Não se deve julgar as pessoas pela sua aparência, mas sim pelos seus actos.